domingo, 7 de agosto de 2016

Sobre nós (Cap.4) - Despedida



AVISO: Esse é o começo de uma história que estou escrevendo aos poucos, não é uma história de amor como a dos filmes, é diferente, diferente no quesito de ser sobre ela... Essa história é para você e por você, mas não é só sobre você, é sobre mim, sobre nós, sobre todas as coisas que vieram antes e as que ficaram depois. Tudo que foi importante está aqui, e se está aqui é porquê ainda é, tudo. Mas, tudo que posso dar são deslumbres de um sentimento e a verdade, de inicio a verdade será o suficiente.

2009/2010 - Cartas, finais, recomeços 


Já se passara uma semana desde o beijo entre Ju e eu, minha cabeça estava a mil, pensando várias coisas que hoje eu descobri não serem verdadeiras, o medo pode te fazer imaginar o pior e acredite, naquela altura, estava morrendo de medo. O ensaio daquela semana foi cancelado e eu não a veria, então minha cabeça entrou choque, para um adolescente de 14 anos que nunca havia dado um beijo na vida, saber como prosseguir era algo impossível, ainda mais se levar em consideração a garota que eu beijei. O que estaria Ju pensando? Será que era em mim? Será que beijo tão mal? Será que ela se arrependeu? Eram tantas perguntas e sem chances de resposta, não tinha como eu saber, a única coisa a fazer é esperar pela próxima oportunidade vê-la, no ensaio da semana seguinte. 

Para meu espanto, não precisei esperar muito, a amiga de Ju estudava no mesmo colégio que eu e as duas viviam trocando confidências, pois passavam o intervalo do ensaio todo cochichando pelos cantos da sala, e não foi diferente dessa vez. Ela chegou em mim com um sorrisinho malicioso, seguido da mais estranha afirmação.

- Conseguiu hein senhor Gabriel? - disse Carla, a amiga de Ju
- O quê? - eu estava confuso pela afirmação que ela havia acabado de dizer.
- Nada, a Ju mandou te entregar isso e pediu para eu não abrir, mas sei o que deve ter ai dentro, ela me conta tudo - se gabou Carla. 

Em seguida, ela me entregou uma carta branca e cheirosa, com meu nome na frente e no verso um "De Ju", Carla se despediu e me deixou no patio do colégio, pensando angustiado,  o quê estava me esperando dentro daquela carta e qual destino me reservava. Eu preferi sair da escola naquele momento, qualquer que fosse o conteúdo, não gostaria que ninguém me visse e consequentemente questionasse. Então eu abri e lá estava: 

"Querido Dan, 

É uma pena que não tenha tido o ensaio essa semana, não consigo ficar muito tempo sem música, mas isso você já sabia. Eu andei pensando muito sobre nosso último encontro e não consigo tirar aquela noite da cabeça, imagino e espero que você também esteja assim. Precisamos conversar, mas não queria esperar até semana que vem, sexta vou estar sozinha com minha irmã em casa, gostaria que pudesse vir até aqui no portão para conversarmos. Se puder, me encontra às 18h, em frente à minha casa, estarei esperando, beijos, Ju". 

Pois é meus amigos, aquela carta só piorou o que já estava ruim, foi como levar um soco no estômago, ela definitivamente odiou nosso beijo. Mas eu teria que enfrentar essa rejeição, eu gostava muito dela, não queria perder a chance de conversar e acertar as coisas, então esperei pela sexta-feira. Quando o dia finalmente chegou, eu sai de casa com o peso de mil pensamentos sobre mim, fui caminhando pelas ruas tentando encontrar soluções possíveis, talvez pudesse fugir do país, mas conseguiria tão rápido. Talvez pudesse ficar em casa e dizer depois que fiquei doente, mas isso seria a saída de um covarde e eu tentava não ser, depois de relutantes planos para fugir, eu desisti e insisti em ir para a casa dela. 

De longe, já podia notar a silhueta de Ju, eram quase 18h, ela pelo visto resolveu me esperar em frente à casa, o que eu achei ótimo, não sei se conseguiria se quer apertar a campainha de tão nervoso, então me aproximei. 

- Oi, Dan - disse ela sorrindo
- Oi Ju, tudo bem? - disse eu, morrendo de medo do que viria a seguir 
- Está sim e você? 
- Estou ótimo Ju - Definitivamente estava mentindo descaradamente, não estava nada bem
- Que bom, espero não ter te preocupado com a carta, precisava mesmo conversar com você, quero muito esclarecer as coisas.
- Eu também quero esclarecer, andei pensando muito nisso - Finalmente tinha dito algo que era verdade. 
- Olha, eu não sei se você se lembra, mas nunca havia beijado alguém e não imaginava como seria minha primeira vez, tinha medo de estragar tudo quando acontecesse e por isso eu quero agradecer a você.
- Me agradecer? Pelo quê Ju? - Já não estava mais preocupado, agora estava curioso, muito. 
- Por ter feito com que me sentisse tão segura comigo mesma, que o medo de estragar as coisas já não existia mais naquela noite, só existia a vontade de te agradecer por isso, e eu agradeci. Mas não quero sentir mais medo e perto de você eu não sinto.
- Acho que sou eu quem devia agradecer, sempre pensei que meu primeiro beijo devesse ser com alguém especial, alguém que me entendesse e eu tivesse muita vontade de estar perto, você preenche tudo isso Ju, eu te quero comigo.

Ela não esperava por uma declaração dessas da minha parte, mas o que veio em seguida me tranquilizou, após a expressão de surpresa e choque, um lindo sorriso, aquele que só a Ju era capaz de dar, estava bem ali, diante de mim e eu só esperei por palavras, embora aquele gesto já tivesse dito tudo.

- Acho que devíamos ir devagar quanto a isso Dan, nos conhecermos mais, conversarmos mais, mas eu quero ficar com você, quanto a isso não há duvida nenhuma - exclamou Ju.

Passamos aquela noite toda conversando, nos abraçamos, nos beijamos, coisas que qualquer adolescente apaixonado faria, com o passar da noite tive que ir para casa e nos despedimos, mal poderia esperar pelo próximo encontro. Embora já tivesse a resposta para todas aquelas perguntas tolas, eu fiquei me questionando, por quê eu? Existiam tantos caras melhores que eu por ai, porquê a Ju iria se interessar por mim? Sou apenas um garoto, que vira e mexe está jogando videogame, ama super heróis e gosta de ler quadrinhos, era impossível entender o porquê dela ter me escolhido. Mas uma coisa era certa, mesmo que não soubesse o verdadeiro motivo dela ter me escolhido, eu sabia que ela era a primeira escolha em tudo que eu resolvesse decidir.

Depois daquele dia, tudo eram flores, estrelas, poesia e romance. Eu ainda não tinha a visto, a última vez fora naquela noite que fomos conversar sobre a carta e eu já estava com saudade. Mas sei lá, essa falta de notícias da Ju estava começando a me preocupar e isso me consumia por dentro. Foi então que veio a notícia, através de Carla, e dessa vez a carta parecia mais pesada para ela, pois era evidente que chorara bastante por conta dos olhos vermelhos.

- Sinto muito Dan, sinto mesmo - disse Carla
- O quê houve Carla? O quê aconteceu?
- Ela mandou te entregar essa carta, vai explicar tudo pra você
- Onde ela está Carla?
- Você já vai saber, é só ler

Aquilo parecia ser algo sério demais para a Carla brincar, não restava dúvida, alguma coisa ruim aconteceu e eu não fiquei de rodeios quanto a carta, logo após recebê-la de Carla, eu abri e a li:

"Querido Dan, quando estiver lendo essa carta, eu provavelmente já terei me mudado para São Paulo, talvez essa tenha sido a carta mais difícil que eu já escrevi, finalmente consegui continuar o texto depois de inúmeras folhas que eu amassei tentando encontrar uma forma de começar. Não queria que soubesse disso por outra pessoa, queria ter tido coragem de te dizer que estava para me mudar, mas eu me apaixonei e quando isso acontece, dizer adeus a quem se ama é uma tarefa árdua e cruel. Há muito tempo eu procurava uma razão para tudo que acontecia comigo, achava que tudo era obra do acaso e não havia nada de especial ao nosso redor, então parei de acreditar que existisse algo realmente especial. Quando eu te conheci, comecei a questionar se minha vida não tinha algum proposito. Depois de muitos anos relutando em aceitar que coisas especiais simplesmente acontecem, você foi um pensamento que jamais deixou a minha mente. Ao te beijar naquela noite, eu achei que o universo havia decidido nos dar um presente, e eu queria mesmo tê-lo aceitado. Você é tão jovem quanto eu, e nós temos muito chão pela frente, eu me mudei e não vou esquecer você, mas não posso deixá-lo preso a mim, seria egoísmo e eu jamais conseguiria ser egoísta com quem me deu tanto em tão pouco tempo. Em relação a isso, só posso amá-lo mais por tudo, espero ver você de novo um dia, mas se isso não acontecer, saiba que os últimos dias foram os melhores da minha vida. Só espero que possa me perdoar algum dia, eu não tive coragem para me despedir mas agora tenho coragem para acreditar no impossível por sua causa. Eu amo quem eu sou quando estou com você Dan, você é o meu melhor amigo, meu confidente mais querido, meu amor mais sincero, você será eterno para mim, para sempre, enquanto eu viver... Da sua, Ju."

Lágrimas desceram pelo meu rosto, eu estava mal, muito mal, mas não era algo ruim que deixa a alma impregnada de amargura, era uma aceitação, de alguma forma, aquele mal dentro de mim não era de todo ruim, mas era inevitável segurar as lágrimas, o pátio do colégio parecia mais vazio agora, depois de saber que ela se foi, eu fiquei sentado lá no canto do pátio, chorando, mas tentando aceitar.

- O quê houve? Porquê está chorando? - Uma vez surgiu no silêncio do pátio, questionando os meus motivos. Tentei enxugar as lágrimas para que a pessoa, quem quer que fosse, não confirmasse suas suspeitas, mas eu estava com tanta raiva daquele ser ter me incomodado em um momento tão difícil, que virei, olhei pra cima e fui o mais irônico possível.
- Não estou chorando, caiu uns 30 ciscos no meu olho, só isso - Quando eu parei pra ver quem era, pude perceber a dona por trás daquela voz de questionamento, depois de ouvir minha resposta, a voz começou a rir e a risada era de Bia Ávila.
- Até parece né Daniel, alguma coisa deve ter acontecido para esses ciscos terem ido parar aí
- Sério? Nossa, não imaginava, para mim eles sempre estiveram aqui, agora que resolveram aparecer de verdade - Estava com muita raiva e envergonhado por ela ter me visto chorar, estava sendo rude com ela, hoje em dia eu reconheço isso, mas ela parecia não ligar.
- Quando estiver preparado a recomeçar essa conversa de um jeito mais doce, eu não vou rejeitar suas desculpas - disse Bia, com delicadeza, mas em um tom mais sério.

Ela se retirou, me deixando com a raiva, frustração e vergonha, mas uma coisa era óbvia, ela só queria ajudar e eu fui um idiota, precisava recomeçar aquilo, mas não naquele dia.

CONTINUA...







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