Meu problema é você

Ontem, hoje, amanhã e semana que vem, se tivermos sorte e não nos matarmos podemos considerar até mês que vem também, sempre será dessa forma, nós dois e nossas complicações, um medindo qual delas é maior. Eu sei que as suas ganham por eu ser uma delas, mas as minhas também ganham por você ser a principal entre muitas outras. Eu acordo toda manhã e penso em um jeito novo de resolver as coisas, me preparando para qualquer coisa que você diga, pois tudo que você diz me irrita e muitas vezes meus planos não funcionam, porque você simplesmente não consegue seguir nada que eu digo. Os dias passam, as horas mais ainda e toda vez que você vai embora é uma dor a mais, e de novo, de novo e de novo. Será que os céus querem me castigar? Realmente eu mereço tudo isso que passo com você? Se existe um prêmio para quem aguentasse mais porrada do amor eu levaria o troféu principal, sua loucura me transformou no campeão desse torneio. Já fugi tantas vezes de você que já perdi as contas, e a cada dia aparecem novas oportunidades para isso, você deixa brechas para que eu fuja e eu vou embora. Só que, eu não sei dizer, se sou eu quem precisa de você ou é você quem precisa de mim por perto para não fazer besteira, talvez realmente tenha que ser eu para te ensinar a olhar para o lado ou para a frente. Até lá, até tudo se ajeitar, até você parar de dar tchau toda noite, até eu conseguir suportar seus pensamentos diferentes dos meus, até eu não fugir mais de você, você sempre será meu maior problema e a solução para ele também. 

Nessa Noite

Eu estive lá fora faz alguns minutos, poucos minutos atrás apenas, mas já sinto falta da sensação. Nessa noite as ruas estavam silenciosas como de costume, também como não poderiam, 1h20 da madrugada e não havia nenhuma viva alma na avenida, nem nas esquinas, nem em lugar nenhum, apenas eu. O dia ontem começou devagar e a tarde subiu seu nível, mas não ao máximo, ainda faltava alguma coisa. Depois de todos esses meses, eu achei que sabia o que estava fazendo, sentia que havia encontrado finalmente algo concreto dentro de mim para me segurar, foi erro meu. Então, como qualquer pessoa desolada por expectativas, precisei me segurar na minha única fonte de reflexão e sossego, o silêncio das ruas de Barra Mansa depois das 23h. Eu sei que é difícil escapar das lembranças e memórias de lugares que estivemos juntos ou até mesmo os cantinhos que lembram outros lugares que você esteve, mas o silêncio e a velocidade me fizeram esquecer você por uma noite. Eu corri muito, tanto que quase me esqueci, embora sempre tenha que parar e esse parar me mata. Se eu pudesse viver correndo, me tornando a velocidade, talvez conseguisse esquecer, entretanto, enquanto eu tiver que parar, sempre vou lembrar. Quem sabe eu precise de mais noites como essa, talvez eu só precise voltar para casa e não para outro lugar...

Sobre nós (Cap.5) - Orgulho

AVISO: Esse é o começo de uma história que estou escrevendo aos poucos, não é uma história de amor como a dos filmes, é diferente, diferente no quesito de ser sobre ela... Essa história é para você e por você, mas não é só sobre você, é sobre mim, sobre nós, sobre todas as coisas que vieram antes e as que ficaram depois. Tudo que foi importante está aqui, e se está aqui é porquê ainda é, tudo. Mas, tudo que posso dar são deslumbres de um sentimento e a verdade, de inicio a verdade será o suficiente. Mas quando o fim chegar e ele sempre chega, talvez iremos querer mais que a verdade.

2010 - É inegável que devemos ficar juntos 

Dizem por aí que todo mundo tem sua cara metade, sua outra parte da laranja, alma gêmea, entre outros termos inventados por esses apaixonados de plantão, mas eu não concordava com isso. A Ju tinha se mudado a dois meses e eu enfrentava o dilema de ir para uma escola nova, e pior, enfrentava a entrada do ensino médio em minha vida. As coisas tomariam novos rumos, isso não tinha como negar, só não sabia se os caminhos que eu traçaria naquele seriam bons ou ruins. Para piorar meu início de 2010, Tyson também se mudará, embora eu não tenha chorado por ele é claro, apenas triste em saber que um bom amigo teria que ir pra longe, mas de qualquer maneira desejei o melhor a ele e sorte no que fizer. 

Eu, pra variar, comecei a estudar no colégio perto de casa, por causa da mania da minha mãe de me manter sempre por perto. Não estava nem um pouco afim de ir no primeiro dia de aula, não tinha amigos lá, mas eu suspeitava que encontraria rostos conhecidos, pois muita gente do bairro devia estudar lá pelo mesmo motivo que eu, era perto de casa. Então lá foi eu todo "animado" para o primeiro dia de aula, cheguei cedo como já era de lei, pois amo ser pontual e odiaria chegar tarde em um lugar que é estranho para mim. Isso de certa forma foi vantajoso, quando encontrei minha sala e entrei, vi que era um dos três primeiros alunos a chegar ali. Sentei nas primeiras carteiras e esperei pela chegada do professor. 

Além de mim, mais dois alunos esperavam naquela sala vazia, uma garota morena de cabelos cacheados, sentada bem no meio da sala, parecia entediada por estar ali, mas como eu poderia discordar dela, realmente era horrível em qualquer aspecto todo aquele primeiro dia de aula. O outro ocupante estava a duas carteiras ao meu lado, um garoto que parecia ser bem mais velho do que eu, usava brinco na orelha direita, cabelos negros com uma franja jogada para o lado, seu nome era Rubens. Quando estou de bobeira e tenho que esperar por algo, nesse caso a chegada do professor, gosto de passar o tempo desenhando, um dos meus hobbies favoritos, e foi esse fator que chamou a atenção de Rubens. Quando ele me viu desenhando logo puxou conversa e começamos a conversar desde então. 

O que eu pensava que seria um bicho de sete cabeças, se tornou um dos melhores meses para mim, além de Rubens, logo fiz amizade com Brenno, Johny e Lucas, o colégio era como nosso reino e nós andávamos sempre juntos, não podia ficar melhor, o ano estava ótimo, mas mais uma vez eu estava enganado. 

- Molecada, fiz meu orkut hoje, me aceitem lá - disse Rubens.

- Tá de sacanagem né Rubin, orkut está quase no esquecimento, geral tá usando o facebook agora - Comentou Brenno. 

- É verdade cara, eu nem curto rede social, mas vou fazer uma conta no face, dizem que é da hora - falou Johny. 

- Vocês são tudo burro, eu tenho os dois - se vangloriou Lucas. 

- É ruim de perder meu tempo fazendo essas merdas, tô fora dessas febres de MSN, Orkut e Facebook - revelou eu. 

Apesar de todo o esforço, não demorou muito para que eu fizesse uma conta no orkut e facebook, os "PNs" (Nome batizado por nós cinco) me convenceram a fazer, pois assim ficaria mais fácil de nos comunicarmos quando não estivéssemos na escola. Eu realmente detestava aquelas redes sociais, quase não entrava, o que muitas vezes fez com que meus amigos ficassem bolados comigo, mas fazer o quê, eu não curtia, até uma certa noite. Pela primeira vez na vida, eu gastei uma noite para entrar no orkut e dar uma espiada nos perfis dos meus amigos, foi então que eu a vi, no perfil do Rubin, adicionada como amiga e linda de uma forma que não me lembrava, lá estava Bia Ávila. 

Eu logo cliquei no perfil dela para poder saber mais, onde, como e com quem estava, a curiosidade cresceu mais e mais a cada foto. No dia em que trocamos palavras pela primeira vez e a única vez aliás, eu tinha sido muito grosso e arrogante com ela, afinal, acabava de descobrir sobre a mudança da Jú, embora eu soubesse que aquilo não era motivo para tratar a Bia do jeito que eu tratei. Eu não esperei o orgulho me controlar e logo mandei solicitação de amizade e fui dormir, qualquer que fosse a resposta dela, eu só saberia no outro dia e teria que esperar.

Acreditem ou não, ela aceitou no dia seguinte, assim que eu entrei na internet para meu espanto. Eu sabia que ela merecia mais que uma simples solicitação e a situação ficasse por isso mesmo, ela merece desculpas e eu querida dar, mas o orgulho não deixava. Do meu jeito, desde que me conheço e passei a ter "consciência", sei que sou um dos caras mais orgulhosos do mundo, o que na minha opinião é um péssimo defeito. Não sei, era mais forte do que eu, só sei que naquele dia, no dia que Bia me adicionou no orkut e facebook, eu não fui falar com ela.

Mas a vida age de forma engraçada, daquele dia em diante eu passei a encontrá-la em lugares inesperados e ficava muito sem graça por isso. Ela parecia me perseguir, fosse no bairro, na igreja, no centro da cidade, em qualquer lugar que eu fosse, confesso que já estava até nos meus pensamentos. Agora eu tinha um frequente contato com ela, mesmo de longe nós nos víamos e eu não consegui falar com ela. Em algum momento eu teria que enfrentar o orgulho e ser mais aberto para ela, realmente queria pedir desculpas, Rubens foi essencial para que eu conseguisse criar coragem e ir falar com ela.

Lembro como se fosse ontem, era uma tarde de céu nublado, mas não chovia, era o tipo de dia com aparência triste porém, com uma atmosfera propicia para fazer coisas divertidas. Eu estava no meu quarto, de frente para o computador e ela ficou online no meu MSN. De imediato meu corpo entrou em choque, era quase como se ela estivesse ali diante de mim, hoje eu acredito que se realmente ela tivesse aparecido naquela hora na minha frente, eu teria caído para trás. Estava nervoso sem motivo algum, mas depois de tanto tempo, era óbvio que tudo envolvendo a Bia me deixava nervoso, decidi mudar aquilo de uma vez por todas.

Naquela tarde, com um simples "oi", minha vida mudaria significamente e eu nem sabia disso, ainda.

- Oi Bia!
- Oi - disse ela secamente e isso me irritou de uma forma que não gosto nem de lembrar.
- Tudo bem?
- Sim e com você? - Ela parecia objetiva, com certeza não tinha esquecido da última vez.
- Estou joia. Sabe, já faz um tempo que eu venho tentando falar com você sobre uma coisa.
- Que coisa?
- Sobre a última vez que nos falamos, eu estava passando por um momento ruim e você só perguntou o que estava acontecendo para mim. Você não merecia a minha grosseria, eu fui rude contigo, algo que não costumo ser e me arrependi logo após você ter ido embora. Só quero hoje te pedir desculpas pelos meus erros daquele dia, sinceramente, desculpa mesmo.

Ela demorou para responder, o que para mim pareceu mais uma reflexão de pensamento em relação ao que dizer para uma declaração sincera da minha parte. Bia parecia ser uma garota muito simpática, alegre e comunicativa, mas muitos já disseram que ela é o orgulho em pessoa. Sendo ela ou não alguém orgulho, Bia estava lidando com o mestre do orgulho em pessoa, entretanto, eu renunciei ao título para que nós pudéssemos encontrar uma nova forma de começar.

- Sabe Dan, eu realmente fiquei muito chateada com você, também curiosa e surpresa pelo jeito que me tratou. Eu não sou ninguém para te negar desculpas, mas também não sou de dar terceiras chances. Para sua sorte, essa é a sua segunda - disse Bia.

- Olha Bia, eu sinceramente não preciso das suas "chances", vim pedir desculpas e ser franco com você. Só queria recomeçar direito contigo, não gosto de ultimatos e não vai ser porquê te tratei mal que irei me submeter aos seus.

- Ah, você que sabe Daniel, faça o que bem entender
- Farei mesmo, boa tarde Beatriz!
- Boa tarde!

Sim, vocês esperavam o quê? Eu te amo para lá, não vivo sem você pra cá? hahaha, não rolou galera e nem iria rolar, não com ela. Tudo que eu queria na época depois dessa conversa era distância de Beatriz Ávila, aquela garota começou a me irritar e só o nome dela me dava dor de cabeça. Mas quem eu estava querendo enganar, é lógico que eu queria conhecer mais ela, de preferência encontrar com ela. Porquê eu queria isso? Não sabia e demoraria muito para descobrir, embora uma coisa fosse certa, ela era tão orgulhosa quanto eu, mas eu abriria mão do meu maior defeito para poder ficar com ela.

CONTINUA... 

A Última Carta

Eu tive um sonho essa manhã, que me fez lembrar algo muito antigo que já havia pensado. Pode parecer muito clichê e bobo, mas por sempre ser um desastre nos relacionamentos quando era adolescente, esperava que tal problema se resolveria na vida adulta. Eu comecei a acreditar que o que quer que fosse, ou quem quer que fosse, apareceria na faculdade, eu tinha esse questionamento em mim. Então os anos foram se passando, eu entrei para a faculdade, conheci as garotas da minha turma, conheci a maioria das garotas da faculdade e todas elas não eram para mim. Eu sou uma pessoa mega simples, sempre fui, tem dias que vou levar o lixo para fora de pijama e nunca me interessei por nada que os jovens de hoje gostam, mas essa parte quase todo mundo já conhece. Com o tempo de faculdade, fui perdendo a fé no amor, até porquê isso já vinha acontecendo desde a minha adolescência, eu então coloquei em mim que ficaria sozinho, tentaria não me aproximar de ninguém daquele lugar, das pessoas que amam tudo que eu odeio e adoram lugares que eu desprezo. A questão é que meus planos passaram a se resumir apenas em terminar a faculdade, já que me apaixonar por alguém ali seria impossível. O engraçado é que eu tinha esquecido isso sabe, tinha esquecido que um dia eu pensei que talvez a pessoa que eu iria amar pelo resto da vida, estaria na faculdade e mais uma vez eu odiei estar certo. Com isso, agora, eu me questiono mais uma vez. Eu tenho uma vida inteira pela frente ainda, vou trabalhar futuramente, começar outras faculdades, com certeza encontrar novas pessoas e ainda talvez possa me apaixonar novamente. Mas em um mundo onde eu sei que você existe, eu deixei de querer procurar por alguém que eu já encontrei, você me faz querer sempre o melhor de mim e eu não poderia ser mais grato a você por isso. Talvez tudo que você precise de mim agora é confiança, só espero que isso que eu vá te dá não se rache no fim do ano, mas se acontecer, tudo bem também. Você passou a ser a melhor parte dos meus dias esse ano e se eu ficar longe de você é óbvio que tudo vai ficar cinza. Por isso, mesmo que não dê certo e você não tenha coragem para seguir comigo, eu vou passar todos esses meses seguintes com você e sempre perto de você, talvez sejam nossos últimos meses juntos e depois, dependendo das suas escolhas, nunca mais nos veremos, porquê a vida é assim. Então, mesmo que doa te ver ir para casa sem mim, eu vou ficar com você, prefiro gastar o tempo que temos juntos do que um de cada lado, afinal, ficar do seu lado é muito melhor... 

Sobre nós (Cap.4) - Despedida

AVISO: Esse é o começo de uma história que estou escrevendo aos poucos, não é uma história de amor como a dos filmes, é diferente, diferente no quesito de ser sobre ela... Essa história é para você e por você, mas não é só sobre você, é sobre mim, sobre nós, sobre todas as coisas que vieram antes e as que ficaram depois. Tudo que foi importante está aqui, e se está aqui é porquê ainda é, tudo. Mas, tudo que posso dar são deslumbres de um sentimento e a verdade, de inicio a verdade será o suficiente.

2009/2010 - Cartas, finais, recomeços 

Já se passara uma semana desde o beijo entre Ju e eu, minha cabeça estava a mil, pensando várias coisas que hoje eu descobri não serem verdadeiras, o medo pode te fazer imaginar o pior e acredite, naquela altura, estava morrendo de medo. O ensaio daquela semana foi cancelado e eu não a veria, então minha cabeça entrou choque, para um adolescente de 14 anos que nunca havia dado um beijo na vida, saber como prosseguir era algo impossível, ainda mais se levar em consideração a garota que eu beijei. O que estaria Ju pensando? Será que era em mim? Será que beijo tão mal? Será que ela se arrependeu? Eram tantas perguntas e sem chances de resposta, não tinha como eu saber, a única coisa a fazer é esperar pela próxima oportunidade vê-la, no ensaio da semana seguinte. 

Para meu espanto, não precisei esperar muito, a amiga de Ju estudava no mesmo colégio que eu e as duas viviam trocando confidências, pois passavam o intervalo do ensaio todo cochichando pelos cantos da sala, e não foi diferente dessa vez. Ela chegou em mim com um sorrisinho malicioso, seguido da mais estranha afirmação.

- Conseguiu hein senhor Gabriel? - disse Carla, a amiga de Ju

- O quê? - eu estava confuso pela afirmação que ela havia acabado de dizer.

- Nada, a Ju mandou te entregar isso e pediu para eu não abrir, mas sei o que deve ter ai dentro, ela me conta tudo - se gabou Carla. 

Em seguida, ela me entregou uma carta branca e cheirosa, com meu nome na frente e no verso um "De Ju", Carla se despediu e me deixou no patio do colégio, pensando angustiado,  o quê estava me esperando dentro daquela carta e qual destino me reservava. Eu preferi sair da escola naquele momento, qualquer que fosse o conteúdo, não gostaria que ninguém me visse e consequentemente questionasse. Então eu abri e lá estava: 

"Querido Dan, 

É uma pena que não tenha tido o ensaio essa semana, não consigo ficar muito tempo sem música, mas isso você já sabia. Eu andei pensando muito sobre nosso último encontro e não consigo tirar aquela noite da cabeça, imagino e espero que você também esteja assim. Precisamos conversar, mas não queria esperar até semana que vem, sexta vou estar sozinha com minha irmã em casa, gostaria que pudesse vir até aqui no portão para conversarmos. Se puder, me encontra às 18h, em frente à minha casa, estarei esperando, beijos, Ju". 

Pois é meus amigos, aquela carta só piorou o que já estava ruim, foi como levar um soco no estômago, ela definitivamente odiou nosso beijo. Mas eu teria que enfrentar essa rejeição, eu gostava muito dela, não queria perder a chance de conversar e acertar as coisas, então esperei pela sexta-feira. Quando o dia finalmente chegou, eu sai de casa com o peso de mil pensamentos sobre mim, fui caminhando pelas ruas tentando encontrar soluções possíveis, talvez pudesse fugir do país, mas conseguiria tão rápido. Talvez pudesse ficar em casa e dizer depois que fiquei doente, mas isso seria a saída de um covarde e eu tentava não ser, depois de relutantes planos para fugir, eu desisti e insisti em ir para a casa dela. 

De longe, já podia notar a silhueta de Ju, eram quase 18h, ela pelo visto resolveu me esperar em frente à casa, o que eu achei ótimo, não sei se conseguiria se quer apertar a campainha de tão nervoso, então me aproximei. 

- Oi, Dan - disse ela sorrindo

- Oi Ju, tudo bem? - disse eu, morrendo de medo do que viria a seguir 

- Está sim e você? 

- Estou ótimo Ju - Definitivamente estava mentindo descaradamente, não estava nada bem

- Que bom, espero não ter te preocupado com a carta, precisava mesmo conversar com você, quero muito esclarecer as coisas.

- Eu também quero esclarecer, andei pensando muito nisso - Finalmente tinha dito algo que era verdade. 

- Olha, eu não sei se você se lembra, mas nunca havia beijado alguém e não imaginava como seria minha primeira vez, tinha medo de estragar tudo quando acontecesse e por isso eu quero agradecer a você.

- Me agradecer? Pelo quê Ju? - Já não estava mais preocupado, agora estava curioso, muito. 

- Por ter feito com que me sentisse tão segura comigo mesma, que o medo de estragar as coisas já não existia mais naquela noite, só existia a vontade de te agradecer por isso, e eu agradeci. Mas não quero sentir mais medo e perto de você eu não sinto.
- Acho que sou eu quem devia agradecer, sempre pensei que meu primeiro beijo devesse ser com alguém especial, alguém que me entendesse e eu tivesse muita vontade de estar perto, você preenche tudo isso Ju, eu te quero comigo.

Ela não esperava por uma declaração dessas da minha parte, mas o que veio em seguida me tranquilizou, após a expressão de surpresa e choque, um lindo sorriso, aquele que só a Ju era capaz de dar, estava bem ali, diante de mim e eu só esperei por palavras, embora aquele gesto já tivesse dito tudo.

- Acho que devíamos ir devagar quanto a isso Dan, nos conhecermos mais, conversarmos mais, mas eu quero ficar com você, quanto a isso não há duvida nenhuma - exclamou Ju.

Passamos aquela noite toda conversando, nos abraçamos, nos beijamos, coisas que qualquer adolescente apaixonado faria, com o passar da noite tive que ir para casa e nos despedimos, mal poderia esperar pelo próximo encontro. Embora já tivesse a resposta para todas aquelas perguntas tolas, eu fiquei me questionando, por quê eu? Existiam tantos caras melhores que eu por ai, porquê a Ju iria se interessar por mim? Sou apenas um garoto, que vira e mexe está jogando videogame, ama super heróis e gosta de ler quadrinhos, era impossível entender o porquê dela ter me escolhido. Mas uma coisa era certa, mesmo que não soubesse o verdadeiro motivo dela ter me escolhido, eu sabia que ela era a primeira escolha em tudo que eu resolvesse decidir.

Depois daquele dia, tudo eram flores, estrelas, poesia e romance. Eu ainda não tinha a visto, a última vez fora naquela noite que fomos conversar sobre a carta e eu já estava com saudade. Mas sei lá, essa falta de notícias da Ju estava começando a me preocupar e isso me consumia por dentro. Foi então que veio a notícia, através de Carla, e dessa vez a carta parecia mais pesada para ela, pois era evidente que chorara bastante por conta dos olhos vermelhos.

- Sinto muito Dan, sinto mesmo - disse Carla
- O quê houve Carla? O quê aconteceu?
- Ela mandou te entregar essa carta, vai explicar tudo pra você
- Onde ela está Carla?
- Você já vai saber, é só ler

Aquilo parecia ser algo sério demais para a Carla brincar, não restava dúvida, alguma coisa ruim aconteceu e eu não fiquei de rodeios quanto a carta, logo após recebê-la de Carla, eu abri e a li:

"Querido Dan, quando estiver lendo essa carta, eu provavelmente já terei me mudado para São Paulo, talvez essa tenha sido a carta mais difícil que eu já escrevi, finalmente consegui continuar o texto depois de inúmeras folhas que eu amassei tentando encontrar uma forma de começar. Não queria que soubesse disso por outra pessoa, queria ter tido coragem de te dizer que estava para me mudar, mas eu me apaixonei e quando isso acontece, dizer adeus a quem se ama é uma tarefa árdua e cruel. Há muito tempo eu procurava uma razão para tudo que acontecia comigo, achava que tudo era obra do acaso e não havia nada de especial ao nosso redor, então parei de acreditar que existisse algo realmente especial. Quando eu te conheci, comecei a questionar se minha vida não tinha algum proposito. Depois de muitos anos relutando em aceitar que coisas especiais simplesmente acontecem, você foi um pensamento que jamais deixou a minha mente. Ao te beijar naquela noite, eu achei que o universo havia decidido nos dar um presente, e eu queria mesmo tê-lo aceitado. Você é tão jovem quanto eu, e nós temos muito chão pela frente, eu me mudei e não vou esquecer você, mas não posso deixá-lo preso a mim, seria egoísmo e eu jamais conseguiria ser egoísta com quem me deu tanto em tão pouco tempo. Em relação a isso, só posso amá-lo mais por tudo, espero ver você de novo um dia, mas se isso não acontecer, saiba que os últimos dias foram os melhores da minha vida. Só espero que possa me perdoar algum dia, eu não tive coragem para me despedir mas agora tenho coragem para acreditar no impossível por sua causa. Eu amo quem eu sou quando estou com você Dan, você é o meu melhor amigo, meu confidente mais querido, meu amor mais sincero, você será eterno para mim, para sempre, enquanto eu viver... Da sua, Ju."

Lágrimas desceram pelo meu rosto, eu estava mal, muito mal, mas não era algo ruim que deixa a alma impregnada de amargura, era uma aceitação, de alguma forma, aquele mal dentro de mim não era de todo ruim, mas era inevitável segurar as lágrimas, o pátio do colégio parecia mais vazio agora, depois de saber que ela se foi, eu fiquei sentado lá no canto do pátio, chorando, mas tentando aceitar.

- O quê houve? Porquê está chorando? - Uma vez surgiu no silêncio do pátio, questionando os meus motivos. Tentei enxugar as lágrimas para que a pessoa, quem quer que fosse, não confirmasse suas suspeitas, mas eu estava com tanta raiva daquele ser ter me incomodado em um momento tão difícil, que virei, olhei pra cima e fui o mais irônico possível.
- Não estou chorando, caiu uns 30 ciscos no meu olho, só isso - Quando eu parei pra ver quem era, pude perceber a dona por trás daquela voz de questionamento, depois de ouvir minha resposta, a voz começou a rir e a risada era de Bia Ávila.
- Até parece né Daniel, alguma coisa deve ter acontecido para esses ciscos terem ido parar aí
- Sério? Nossa, não imaginava, para mim eles sempre estiveram aqui, agora que resolveram aparecer de verdade - Estava com muita raiva e envergonhado por ela ter me visto chorar, estava sendo rude com ela, hoje em dia eu reconheço isso, mas ela parecia não ligar.
- Quando estiver preparado a recomeçar essa conversa de um jeito mais doce, eu não vou rejeitar suas desculpas - disse Bia, com delicadeza, mas em um tom mais sério.

Ela se retirou, me deixando com a raiva, frustração e vergonha, mas uma coisa era óbvia, ela só queria ajudar e eu fui um idiota, precisava recomeçar aquilo, mas não naquele dia.

CONTINUA...

Estamos sob o mesmo céu

Mais uma semana se foi, mais dias ficaram para trás e mais outros estão por vir, embora uma única coisa não mude, o tempo continua trabalhando e transformando tudo. Se olhar ao seu redor, conseguirá perceber tais mudanças, seja nas roupas das pessoas, nas atitudes delas, talvez até no comportamento que estarão mostrando quando estiverem vivendo. Eu aprendi que por mais incrível e fantástico que algo possa ser para você, não te torna mais merecedor daquilo, e no final, sempre coloque o bem comum acima do seu próprio bem. O tempo agora está agindo conforme às mudanças foram orquestradas, e mesmo que algo pareça difícil, isso não quer dizer que não seja solucionavel. As dificuldades são convites para um bom aprendizado, o que deve ser feito é se desprender da importância que damos quando algo fica difícil e não desapegamos por nos importarmos demais. O mais importante agora é, olhe para o céu, para todas as estrelas que estão lá, se você as consegue ver, eu também conseguirei, isso significa que apesar das diferenças, dos caminhos e das escolhas, ainda estamos ligados sob mesmo céu.