quarta-feira, 20 de julho de 2016

Sobre nós (Cap.3) - Harmonia



AVISO: Esse é o começo de uma história que estou escrevendo aos poucos, não é uma história de amor como a dos filmes, é diferente, diferente no quesito de ser sobre ela... Essa história é para você e por você, mas não é só sobre você, é sobre mim, sobre nós, sobre todas as coisas que vieram antes e as que ficaram depois. Tudo que foi importante está aqui, e se está aqui é porquê ainda é, tudo. 

2009 - Sorrisos e Música

A música, a melodia, o ritmo, a harmonia, todo o contexto poético e filosófico por trás da canção é um dos melhores gatilhos de emoções que existem. De uma maneira bem minuciosa, eu sempre estive envolvido nesse mundo, o mundo da música que influencia sentimentos e toca pessoas. Meu avô era sanfoneiro e isso com certeza foi uma inspiração para a geração de filhos que ele viria a ter, embora, com muita contradição e ironia eu afirme que meu pai foi o único dos 5 filhos que não herdara o talento da música no sangue. Todavia, isso não me impediu de adquirir pelo menos o interesse pela música, que inclusive, será explicado mais para frente, pois agora, foquemos em Jú Vieira. 

MAS DAN, E A BIA? PENSEI QUE ESSA HISTÓRIA ERA SOBRE VOCÊ E A BIA, CADÊ ELA NESSA HISTÓRIA? É verdade meus amigos, não nego, prometi isso a vocês e vou cumprir, mas para alcançar o outro lado do rio, primeiro é necessário atravessar a ponte e não chegaria à Bia senão fosse pela Jú. A primeira vez que vi a Ju, nós estávamos em um auditório, sentados em cadeiras que mais lembravam aqueles bancos coletivos de refeitório, separados por uma pessoa, Tyson, meu amigo. Dizia ele que toda vez que eu olhava para frente ela virava para o lado e ficava me encarando por uns dois segundos, antes de voltar seus olhos para a explicação do professor de música. Eu não minto, também estava olhando para ela e toda hora tentava despistar que falaria algo com o Tyson só para ver aquele rosto de menina estudiosa, ela me passava a sensação de ser uma pessoa centrada e cheia de condutas, isso me chamou a atenção de inicio.  

Jú não era do colégio, mas morava perto da minha casa, quase no mesmo bairro. Ela entrou para o departamento de música como assistente, pois precisavam de um tecladista nas aulas para auxiliar o professor, que não conseguia atender a uma demanda de 20 alunos. Jú veio com o intuito de ajudar o máximo de estudantes que conseguisse, mas ela fez mais que isso. A primeira vez que nos falamos foi por intervenção de Tyson, que armou uma arapuca para mim.

- CARA, A JÚ, TECLADISTA DO DEPARTAMENTO, DISSE QUE TE ACHA MUITO BONITO E PERGUNTOU SE VOCÊ TEM NAMORADA - Disse Tyson.

- MAS TYSON, COMO EU VOU FALAR COM ELA, ESSA GAROTA É TODA CERTINHA E PARECE SER DO TIPO ESCOTEIRA, DEVE SER SÓ UM LANCE EXTERNO MESMO, QUANDO ELA DESCOBRIR QUE NÃO SOU O MELHOR EM NADA, VAI CORRER NA MESMA HORA - Sim, eu realmente disse isso. 

Mais uma vez lá estava eu, com todos os meus preconceitos e deduções absurdas, por isso um conselho a vocês meus amigos, nunca pense que o jogo está perdido sem nem ter começado a jogar ainda. A questão é que eu não sei como, mas arrumei coragem para ir falar com ela e a recepção foi mais surpreendente ainda. Apesar de descobrir depois que tudo foi uma armação do Tyson para eu me aproximar dela, Jú foi super cordial comigo e parecia estar afim de estabelecer mais contato comigo. 
De um jeito fluído, nos tornamos amigos e ela gostava de estar comigo, eu também gostava de estar com ela. Ela era 20 dias mais nova que eu, apesar de termos nascido no mesmo ano, embora isso não fizesse o menor efeito sobre nós. 

O departamento teria uma apresentação em breve, com isso, os ensaios se intensificaram ainda mais e consequentemente, nosso contato aumentou muito. A essa altura, viramos confidentes dos segredos um do outro e ela guardava com ela o fato de que eu nunca tinha ficado com qualquer garota pra valer, o que foi bastante difícil de admitir. Ela não pareceu se importar, o que me surpreendeu foi que assim como eu, com os seus 14 anos de idade, Jú ainda não tinha ficado com ninguém também. 

- VOCÊ É LINDA JÚ, É BACANA E SIMPÁTICA, COMO AINDA NÃO TEVE NENHUM GAROTO COM CORAGEM O SUFICIENTE PARA CHEGAR EM VOCÊ? - comentou eu, surpreso com a declaração dela. 

- EU NÃO SEI, GOSTEI DE APENAS DE UM GAROTO ATÉ HOJE, MAS ERA MUITO NOVINHA. TALVEZ GOSTAR TENHA QUE ACONTECER NATURALMENTE, NÃO CHEGANDO NA PESSOA E PERGUNTANDO SE ELA QUER TE BEIJAR. ACHO QUE QUANDO AS COISAS ESTÃO DESENCAIXADAS, DEUS DÁ UM JEITO DE COLOCÁ-LAS NO LUGAR - disse Jú. 

Sinceramente, eu finalmente entendera porquê ela não tinha dado seu primeiro beijo até hoje, aquela garota era boa demais para os padrões atuais, para os garotos desse mundo sujo e perverso. Achava eu, não, tinha certeza de que o garoto que a beijasse deveria ser um príncipe dos contos de fadas que minha mãe contava para a minha irmã. Jú estava me chamando muito atenção, mas eu era covarde demais, sempre fui, por medo de perder a amizade das pessoas que me faziam bem, e ela fazia muito bem. Os ensaios foram acabando e o dia da apresentação estava próximo, eu estava no coral e Jú, como era de praxe, no teclado. 

A escola estava mais cheia do que nunca, muitos alunos de outros colégios vieram nos prestigiar, eu mais do que nunca estava muito animado, afinal, não precisaria cantar sozinho, o que na minha opinião seria ameaçador. Mas eu tinha todos meus amigos do coral para camuflar minha voz em um mar de outras vozes. Tyson era o mais desligado de todos, parecia estar ali por obrigação de conseguir pontos extras para a média do que por prazer. eu sinceramente não ligava, até me divertia vendo a cara de tédio dele. Me preparando juntamente com os integrantes do coral, fomos para o palco e esperamos os músicos do departamento chegarem, Jú não chegara, ainda. 

Foi por uma fração de segundos, mas, eu olhei para a entrada do auditório e vi um brilho de luz amarelo, parecia aumentar o tamanho e diminuir a intensidade do brilho, mas não era. Eu não consegui encontrar palavras para descrever, dizia Stephen King que as coisas mais importantes são as mais difíceis de dizer e o safado estava certo naquele momento. Quando eu parei para analisar, vi de onde era origem de tanta graça e beleza, não deu outra, Jú era a garota mais linda daquele lugar. Estava com um vestido amarelo, não tão curto e nem tão "discreta", era apertado na altura dos joelhos, como se viesse fechando suas pernas. Ela viera calçando sapatos azuis salto alto, com aquela abertura frontal para os dedos, e trazia consigo uma bolsinha de mão azul para combinar com os sapatos. 

Quando ela passou por mim, fiquei paralisado, mal sabia o que falar a ela, apesar de não haver mais timidez entre nós, não muita é claro, só sei que foi possível dizer apenas um oi bem ligeiro para ela naquele momento e Jú sorriu para mim, com seu rosto branquinho ficando vermelho. Tomamos nossos lugares e nos preparamos para a apresentação. Tudo foi muito bem executado, com o grupo sendo ovacionado ao final da noite, apesar de reconhecer que não estava tudo isso, mas fomos realmente bem felizes na realização daquela apresentação. Após o término, a escola preparou uma cantina especial para as bocas famintas que ali haviam, Jú estava em um canto, com uma colega enquanto eu discutia com o Tyson alguns detalhes da apresentação. 

- CARA, O QUE É A JÚ HOJE HEIM? ELA ESTÁ ESPETACULAR, TÁ UM FILÉ, UMA GATINHA, SE VOCÊ NÃO FOSSE GAMADÃO NELA EU PEGAVA, NA MORAL MESMO - compartilhou Tyson comigo os seus pensamentos perversos e fora de hora, mas tive que concordar. 

- REALMENTE, ELA ESTÁ LINDA, MUITO MESMO E PARECE FICAR MAIS LINDA TODA VEZ QUE SORRIR - o que eu estava dizendo? Ela era minha amiga droga, pera ai, "era"? O que eu estou dizendo, não sei o que estou falando mais... 

Meus amigos, não sei o que estava acontecendo comigo, um conjunto de emoções e sentimentos mistos se apoderou de mim naquela noite e algo me dizia que era só o começo. Depois de meia hora, o pátio da escola foi se esvaziando e a Jú ainda estava em um canto, sozinha, o que eu achei muito estranho. 

- HEY, QUE APRESENTAÇÃO A SUA, ARREBENTOU NO TECLADO JÚ, PARECIA INSPIRADA HOJE - disse eu, para quebrar aquele silêncio e descobrir por quê aquele anjo, ops, quis dizer Jú estava sozinha. 

-  VOCÊ É FOGO, DAN, OBRIGADA, VOCÊ TAMBÉM ESTAVA ÓTIMO HOJE, MUITO BONITO COM ESSA CAMISA SOCIAL BRANCA, COMBINA COM SEU TOM DE PELE BRANCO LEITE - debochou de mim aquele anjo de vestido amarelo. 

- EPA, COMO ASSIM SENHORITA VIEIRA? O SUJO FALANDO DO MAL LAVADO? VOCÊ TAMBÉM PARECE QUE NUNCA VIU UMA PRAIA - comentei rindo a ela com esperança de que ela sorrisse para mim, era tudo que eu precisava naquela hora, me dê um sorriso Jú, só um, pensei eu. 

Para a minha felicidade, ela sorriu, e foi um sorriso lindo, bem demorado para se fechar e eu fiquei ali parado, tentando esticar aquele momento até ter aproveitado segundo do sorriso de Jú.

- VOCÊ VAI PRA CASA AGORA DAN? MEU PAI NÃO VAI PODER ME BUSCAR, MANDOU MINHA IRMÃ VIR ME PEGAR DE CARRO, MAS EU NÃO QUERO IR TÃO CEDO PRA CASA, QUERIA ANDAR UM POUCO - disse Jú, praticamente deixando transparecer um convite. 

- VOU SIM JÚ, EU TE ACOMPANHO SE QUISER, TAMBÉM NÃO QUERIA VOLTAR TÃO CEDO PRA CASA - sim, eu aceitei a sugestão dela e então fomos juntos, caminhando pelas ruas do bairro. Ela foi modesta e eu também, mas não era tão cedo assim, já passara das 22h e nós dois não podíamos demorar a chegar, o que não parecia incomodar Jú, que mesmo com os saltos, andava mais devagar ainda, como se quisesse que eu parasse. 

- DAN, EU POSSO TE PERGUNTAR UMA COISA? 

- PODE SIM, O QUE É JÚ? - eu nunca a vi tão séria, parecia lutar consigo mesma para tentar me falar o que queria. 

- VOCÊ ACREDITA QUE ALGUÉM PODE SE APAIXONAR POR ALGUÉM EM MENOS DE 1 ANO? - questionou ela

- NÃO SEI DIZER, TALVEZ SIM, MAS ACHO QUE NÃO CONSIGO TE RESPONDER ISSO - completei a pergunta dela tentando entender onde ela queria chegar. Será que estava gostando de algum garoto?

- PORQUÊ NÃO? - indagou ela

- POR QUÊ ESTOU TENTANDO ENTENDER SE É POSSÍVEL SE APAIXONAR POR ALGUÉM EM MENOS DE DOIS MESES - eu não sei o que deu em mim naquela hora, mas se alguém merecia a verdade que eu tinha, era ela. 

- DAN, VOCÊ SEMPRE FOI BOM EM GUARDAR MEUS SEGREDOS, E EU SEMPRE GUARDEI OS SEUS, PODERIA GUARDAR MAIS UM TAMBÉM? -sugeriu Jú. 

- É CLARO QUE SIM, SEMPRE - eu finalmente descobriria o que estava incomodando e estava preparado para ajudá=la no que fosse o segredo. 

Ela se aproximou de mim, como se fosse me contar no pé do ouvido, mas se aproximou bem devagar, sem pressa nenhuma e sem desviar os olhos dos meus. Agora nós dois estávamos apenas a dois passos um do outro, o silêncio estava começando a brandir sua quietação quando foi quebrado pela voz de Jú.

- SÓ SERÁ UM SEGREDO, SE VOCÊ QUISER QUE SEJA DAN - finalizou ela

Após dizer isso, Jú e eu nos beijamos, no meio da rua da deserta do bairro dela, quase próximos à casa dela, eu não tinha pressa algum de terminar aquilo, tão pouco ela. Após nos beijarmos, ela parou diante de mim, segurou minha mão e a acariciou com seu polegar direito, levantando o rosto em seguida e sorriu para mim. 

- TE VEJO SEMANA QUE VEM NO DEPARTAMENTO? -  disse ela

- COM CERTEZA - disse eu, e ela se virou e caminhou até o portão da sua casa, parou bem em frente e olhou para mim, deu seu famoso sorriso e voltou a entrar dentro de casa. Quando ela entrou, eu pude sentir que se eu quisesse, poderia voar de tanta felicidade, não sei o que estava acontecendo comigo, só sabia de uma coisa... Eu dei meu primeiro beijo e foi com a garota mais legal do mundo, Jú Vieira. 


CONTINUA... 




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